Sobre a Sobrecarga de Quem Sempre Dá Conta
- Lilian Abreu
- 30 de jun.
- 1 min de leitura
Desde cedo, muitas pessoas aprendem que amor se prova com esforço. Que cuidar é estar sempre disponível. Que ser forte é o mesmo que aguentar calada. Para algumas, o amor foi ensinado como entrega total, às vezes silenciosa, às vezes invisível, e raramente questionado.
Aprendemos a amar tentando ser úteis. Às vezes, carregamos o mundo nos ombros para provar que merecemos ficar. Vamos sendo reconhecidos não pelo que somos, mas pelo que conseguimos resolver. E assim, sem perceber, confundimos amor com função. Com desempenho. Com resistência.
Na clínica, esse tipo de dor chega de maneira sutil. São pessoas que "dão conta de tudo", mas que sentem um cansaço que não passa. Que sorriem por fora, mas se sentem sozinhas por dentro. Que se perguntam, em silêncio, se alguém notaria caso elas parassem de segurar tudo.
Aqui, não se trata de “dar conta” de mais nada, mas sim de se permitir sentir. De ser. De experimentar o cuidado como algo que também pode voltar para você.
Talvez o amor verdadeiro não esteja em quantas caixas conseguimos carregar, mas na coragem de dizer: “Hoje, eu também preciso de colo.” Na ousadia de mostrar que força não é o mesmo que invulnerabilidade.
Desaprender a lógica do amor como sacrifício pode ser um caminho difícil, principalmente quando ele foi o único modelo que conhecemos. Mas é possível. E, muitas vezes, esse processo começa com uma escuta genuína. Um espaço seguro. Um vínculo onde o afeto não exige performance.
Porque todo mundo que carrega demais precisa, em algum momento, encontrar alguém que diga: você não precisa provar nada. Você já é amada.

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